Corporeidade e Educação


CORPO, CULTURA E SOCIABILIDADE: QUAL O PAPEL DA EDUCAÇÃO?

O ser humano não é exclusivamente biológico, se forma e se deforma através das relações sociais e pelo modo de vida de um tempo, sendo influenciado pelo processo histórico no qual está inserido. Portanto, a cultura influencia sociabilidade, isto é: o que somos, como agimos, a forma como pensamos, nossos valores, hábitos e costumes. Somos seres culturais!
No contexto cultural, a sociabilidade gera uma disciplina social a que todos estão submetidos. Sua função é permitir que cada sujeito singular se afirme também como sujeito coletivo, compartilhando referências comuns de um tempo histórico, algo que tende à padronização do modo de vida.
Temos como exemplo o modo de vida da mulher. No passado eram submissas, viviam em função de cuidar do marido, dos filhos e da casa. O trabalho fora do lar não era bem visto, caberia ao homem ser o provedor da casa. Esse condicionamento cultural formou um tipo de mulher. No presente, a mulher vivenciou mudanças, sua inserção no mercado de trabalho e os métodos contraceptivos, por exemplo, permitiu certa independência e autonomia em relação a si mesma e em relação ao homem, porém ainda existem restrições. Sua corporeidade mudou! Esse é um processo decorrente de um tempo histórico, em que sociabilidade foi transformada pela cultura.
Uma das marcas contemporâneas da sociabilidade capitalista é a corpolatria ou culto ao corpo, que se constitui, segundo Wanderlei Codo e Wilson Senne, na “religião do capitalismo”. Os padrões estéticos e comportamentais são estabelecidos pela classe dominante, para aumentar o consumo, e a classe dominada tende a seguir tais padrões.
O grande veículo difusor da corpolatria é a mídia. Para seguir tais influências nos sacrificamos e nos penitenciamos de maneira consciente e até mesmo inconsciente. Esse padrão produzido pela Indústria Cultural tem implicações como o fetiche - a fantasia e o desejo por um objeto ganham vida – e a reificação do corpo, em que o corpo tende a se coisificar. Desse modo o corpo perde seu valor, se tornando uma mercadoria e se banalizando.
Além de estabelecer padrões de beleza, uma das conseqüências desse culto ao corpo cada vez mais difundido, principalmente entre as mulheres, são os transtornos alimentares como a anorexia (medo de estar gordo), bulimia (medo de engordar). O texto Mídia e espetáculo no culto ao corpo: o corpo miragem, de Mirela Berger, comprova que esses transtornos na maioria das vezes atingem mulheres e adolescentes independente da classe social, e que todos se submetem a procedimentos extremos, como regimes perversos, ingestão de remédios fortes e controlados, exercícios físicos exagerados. Esses procedimentos implicam sérias conseqüências podendo levar até a morte.
Diante dos aspectos apresentados: qual deve ser o papel da Escola diante dessa realidade?
Acreditamos que a escola deva desempenhar um papel mais ativo, sendo um lugar do pensar crítico sobre a realidade, inclusive sobre as questões referentes à corporeidade.
Com base na socialização do conhecimento crítico, a escola deve permitir que o aluno compreenda o mundo em que vive, transformando-se num ser autônomo capaz de compreender os aspectos culturais que influenciam sua condição de vida. Isso significa que a educação para a emancipação humana exige uma perspectiva crítica da produção da sociabilidade.



Vídeos:
Anorexia, Bulimia e Vigorexia

Fotos usadas na montagem:
Vigorexia
Manipulação da mídia
Distorção de imagem
Bulimia
Montagem - corpolatria
We can do it!
Referências:
BERGER, Mirela. Mídia e espetáculo no culto ao corpo: corpo miragem. Espírito Santo, 2007.
FIGUEIREDO, Marcio Xavier Bonorino. Corporeidade na escola. Revista Educação, v.16; n°2. 1991 (p. 19 a 30).